O Caso dos Indicadores de Remoção dos Implantes
Resultados de novo estudo em Moçambique
Como muitos provedores de saúde em Moçambique, eu tive o meu primeiro implante inserido em 2013 – no ano em que o País começou a oferecer implantes nas unidades sanitárias.
Logo de seguida, aos investimentos do Ministério da Saúde e dos doadores e a redução nos preços de fabrico, conduziram a alta popularidade e demanda dos Implantes. Em 2015, os implantes tornaram-se no terceiro método contraceptivo mais utilizado por mulheres em idade reprodutiva dos 15 aos 49 anos.
Ministério da Saúde, SISMA-Sistema de Informação de Saúde para Monitoria e Avaliação
Esta foi uma boa notícia para todos nós que acreditamos que as mulheres merecem ter acesso à variedade de métodos contraceptivos. Os implantes estão entre os mais efetivos métodos disponíveis (o uso de um implante resulta em menos de 1 gravidez a cada 100 no primeiro ano de uso). Mas este aumento na inserção de implantes também levantou uma potencial situação de alarme –
Cada mulher que tiver um implante inserido, irá eventualmente precisar removê-lo.
Precisamos apoiar os provedores de saúde em Moçambique, a rastrear e responder de forma efectiva a uma onda iminente de remoção de Implantes.
Por volta de três a cinco anos pós-inserção (Implanon® e Jadelle® respectivamente), todos implantes devem ser removidos por um profissional qualificado. Adicionalmente, algumas usuárias poderão experimentar efeitos colaterais indesejáveis.
Portanto, a questão é, como poderíamos aumentar a nossa qualidade de serviços de aconselhamento pré inserção do implante e a acessibilidade do serviço de remoção do mesmo no preciso momento que as mulheres o desejam …
• Será que os profissionais de saúde qualificados, incluindo os capacitados para remoções delicadas, estão indisponíveis?
• Será que muitos provedores que terminaram o treinamento baseado em competência tem pouca prática?
• Simplesmente não existem dados fiáveis sobre remoção de implantes – tornando difícil que o Ministério, gestores de programas e profissionais de saúde façam uso de evidências para identificar lacunas e tomar medidas?
Hoje, nós temos uma resposta. A medida que Moçambique se prepara para uma iminente onda de remoção de implantes, acredito que os resultados do nosso estudo podem mostrar o caminho a seguir.
Resultados de estudo: como o uso de dados pode melhorar a qualidade do atendimento a mulheres que buscam remoção de implantes.
Como directora de serviços clínicos para o Programa de Planeamento Familiar Integrado, tenho o prazer de partilhar os resultados do estudo em colaboração com o projecto da USAID’s Evidence to Action (E2A) e do Ministério da Saúde.
Fizemos uma parceria com o E2A, membro da Aliança para Remoção de Implante e como líder do sub-grupo de dados, para testar a viabilidade da inclusão de seis indicadores de remoção para contraceptivos reversíveis de longa duração no registo do planeamento familiar do serviço de informação de gestão de saúde em Moçambique:
1. Motivo da visita da cliente
2. Motivo do desejo de remover o implante
3. Tempo desde a inserção
4. Resultado da remoção
5. Motivo da referência
6. Resultado da visita da cliente
Os resultados do estudo podem ser aqui vistos, incluindo os benefícios e desafios da inclusão dos seis indicadores. Por agora, deixo-vos uma estória que ilumina a importância dos indicadores propostos.
Quando dados surpreendem e impulsionam a ação
Num dia, em Maio de 2019, Examinamos e analisamos os indicadores da remoção dos Implantes. O que vimos, surpreendeu-nos.
Fiquei impressionada pelo número elevado de mulheres que citaram “sangramento vaginal” como o motivo de remoção.
Sangramento vaginal é um efeito colateral de todos métodos contraceptivos, incluindo implantes. É uma preocupação que podemos explicar, avaliar o grau de insatisfação da utente e clarificar através dum aconselhamento de qualidade por parte dos provedores. Então, porquê encontramos tantas mulheres que vieram na consulta com a intenção de retirar o implante na base do sangramento vaginal?
O meu primeiro pensamento foi “nós precisamos fortalecer o nosso aconselhamento’. E a nossa equipa do projecto começou a focar nesta questão.
Nós revemos o currículo de formação de PF do projecto IFPP e conduzimos uma supervisão de suporte e discussão dos dados no nível das unidades de saúde. Aprendemos que, às vezes, os provedores não fornecem aconselhamento suficiente pré e pós-inserção, para informar as clientes sobre possível sangramento vaginal, e que esse efeito colateral pode ser tratado.
Nós fortalecemos o nosso módulo de prática de aconselhamento.
Nós conduzimos treinos adicionais a formadoras no Ministério da Saúde (em Nampula e em Sofala), focamos também na prática de remoção dos Implantes, bem como no aconselhamento e tratamento dos seus efeitos colaterais.
E, enquanto temos que esperar pelos dados dos próximos trimestres para ver se as mudanças levam a melhores resultados, uma coisa está clara: nós não poderíamos simplesmente identificar e resolver esta situação como fizemos, sem os resultados deste estudo, uma vez que os gestores de PF não haveriam de ter sido consciencializados sobre importância do aconselhamento pre e pos inserção, como também de barreiras para remoção do implante.
E nós não somos os únicos a recomendar o seu uso. Provedores de serviços envolvidos neste estudo, disseram que os indicadores adicionais eram úteis e fáceis de registar.
“Isto mostra que se o provedor de saúde fizer um aconselhamento devido, durante a inserção [e nas] visitas subsequentes e [garantir] gestão correcta dos efeitos colaterais,” disse um provedor de saúde, “a retenção do método poderá ser maior.”
Pense na diferença que poderia fazer na taxa de prevalência de contraceptivos em Moçambique, para a qualidade do nosso atendimento e, mais importante, para a escolha voluntária e informada dos métodos pelas mulheres de todo país.
LEIA OS RESULTADOS DO ESTUDO
Estudo de viabilidade para a inclusão de indicadores de remoção de contraceptivos reversíveis de longa duração nos registos nacionais de planeamento familiar em Moçambique